Fátima 2017 foi uma missão com uma duração muito superior
aos seus dois dias presenciais.
Para mim, começou ainda em Maio de 2016, quando quis ir fazer
reportagem a Fátima desta peregrinação aniversaria, contudo o meu colega e
amigo que me levava, foi vítima de doença súbita, e acabamos por ir juntos somente
em Agosto.
Foi uma experiência fantástica, e serviu para testar alguns
pontos para fotografar, ciente que a 12 e 13 de Maio de 2017, seria tudo muito
diferente.
Em Outubro de 2016 ainda estávamos ansiosos sobre o anúncio
que o Secretário de Estado do Vaticano iria fazer sobre o plano da visita Papal
do ano seguinte.
No geral queríamos que o Papa Francisco estivesse connosco também
em outros locais do país, e a notícia que o Santo Padre queria ir a Fátima como
peregrino numa visita muito breve, dedicada às celebrações surpreendeu tudo e
todos… como já referi num post anterior fiquei aborrecido com isso, mas depois
de interiorizar a mensagem dele compreendi o que ele queria em concreto e assim
aceitei.
A partir desse momento começar a procurar quem poderia ter o
interesse em que eu fizesse o trabalho. Deduzi e com razão que seriam muitos
repórteres e a acreditação seria muito difícil. Os meses que se seguiram foram
de grande ansiedade. Abre o processo de acreditação de jornalistas e
inscrevi-me para fazer reportagem para o Boletim Salesiano, o Dr. Antunes ficou
muito feliz com a minha oferta de trabalho para a publicação de D. Bosco.
Recebo a confirmação do Santuário que estou acreditado, foi
um suspiro de alívio. Toca de marcar férias para dia 12 de Maio, e arranjar
outros detalhes necessários ao evento.
Para mim foi três em um:
- 100 Anos das Aparições de Fátima
- Vinda do Papa Francisco
- Canonização dos Pastorinhos (esta última só se confirmou a menos de um mês do
dia 12/13 de Maio)
Com o meu grupo de amigos, liderado pelo Arlindo lá fomos
para Fátima dia 12 às 07h00 da manhã a partir de Lisboa. Cheio de sono, mas a ansiedade era tanta
que o sono diluiu-se.
Chegados ao Santuário e depois dos aspectos administrativos
resolvidos, tive o primeiro contacto com os peregrinos.
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(Foto por: João Fernandes) |
Encontrei bastantes grupos, com placas com dizeres,
bandeiras, imagens de Nª Senhora, Crucifixos, entre tantas outras formas de manifestarem
publicamente uns aos outros e ao mundo a sua fé, o seu motivo, os seus pedidos. Contudo houve alguns que
não eram completamente claros no que levavam.
Digo isto, pois encontrei um casal em que o senhor estava
totalmente equipado com vestuário de um clube desportivo. Qual é a primeira
reacção que se pode ter nestas situações? Julgar, é óbvio. Mas antes de
julgar por ser óbvio, devemos de tentar perceber que ele foi para o santuário
com motivos de fé mariana, agora o que o levou a vestir esse equipamento é
muito pessoal e íntimo do coração dele. Ou seja, não se julga nada, as
pessoas têm motivos para se apresentar assim, agora quais, estão com eles. Aprendi
a não julgar pela aparência. Mais tarde ao partilhar as fotos com um amigo meu, fiquei a saber que esse senhor que é seu amigo, é uma pessoa muito crente mesmo.
Continuei a ter contacto com grupos, vi o apresentador
Manuel Luís Goucha, o qual tenho estas fotos com ele (pedi a uma pessoa da sua
equipa para registar o momento com a minha câmera), pessoa muito acessível e
simpática.
A febre das selfies está ao rubro, vi pessoas a fazer
selfies após colocarem um ramo de flores junto à estátua do Papa S. João Paulo
II ou mesmo fazer somente uma foto à estátua do Santo Padre, mas aí também tive que me adaptar aos tempos modernos, pois a pessoa ao
cumprir uma promessa deixando ali um ramo de flores, feito um momento de
oração, quis ter uma recordação para a sua vida sobre algo que pediu e foi atendida, colocou o ramo de flores, e quis registar
esse momento, é perfeitamente normal…
Numa das saídas do Santuário contemplei o Coração evocativo à
vinda do Papa Francisco nesta data. Estava lindíssimo, uma obra de arte muito
bem conseguida, e muitos fiéis a registar fotograficamente o momento.
O terço gigante da Joana Vasconcelos também estava bonito,
embora naquele momento ainda sem estar iluminado.
Fiquei muito feliz por encontrar a minha colega de trabalho
Isabel e mais tarde soube que a Sara também lá estava com ela, tinha-se
retirado por um momento e não a vi.
Descendo mais uns metros, entrei em nostalgia… vejo uma
grande mancha de t-shirts azuis do Movimento “Eu Acredito”. Segundo dados do
Santuário, estavam 3500 jovens inscritos. A nostalgia aparece, pois em 11 de
Maio de 2010, estive a trabalhar para eles na vinda do então Papa Bento XVI em
Lisboa. Foi uma aventura dura, mas compensadora. O “postal” deste mar azul com
a Basílica por trás ficou lindo. Eles estavam completamente estoirados, vieram
em peregrinação a pé. As dioceses envolvidas foram, Lisboa, Porto e Coimbra.
Parabéns mais uma vez por abraçar a mensagem “Eu Acredito”!
Ainda encontrei a Francisca, que não via há muitos anos.
Pede-me oração por uma pessoa amiga que está muito doente. É interessante
encontrar amigos que não vejo há muito e que até moram relativamente perto de
mim. Agora e aqui a 200Km de casa encontro-os.
Uma bandeira que me fez reflectir foi a da Venezuela com a
inscrição como mostra a foto abaixo, pois a Venezuela está a passar uma fase
complicada, e este senhor fez uma viagem tão grande para pedir paz para o seu
país. Ele estava quase na linha da frente no Santuário.
O momento da chegada do Papa Francisco estava eminente, e
pelos ecrãs gigantes vimos a sua aterragem na Base Aérea Nº5 de Monte Real, a
recepção e mais tarde ele a sobrevoar o Santuário a bordo do EH-101 Merlin da
Força Aérea Portuguesa. Aqui ele viu uma grande moldura, um Santuário cheio
para estar com Nª Senhora e com ele.
A sua entrada por Papamóvel foi em grande emoção, sempre com
um aceno e um sorriso para com os fiéis.
Contrastando o seu semblante mais pesado, quando estava
recolhido na oração. O Santuário estava completamente em silêncio, a respeitar
o seu momento de oração pessoal, e a união com ele, cada um no seu silêncio.
Após a oração a Nª Senhora, do Papa Francisco com o povo a
repetir o refrão (texto anexo), o Santo Padre retirou-se voltando à noite para
a bênção das velas.
Neste tempo de espera, estive de perto com a família muçulmana
que estava acompanhada por religiosos portugueses, junto ao Media Center. Aqui
tive um trabalho de partilha, fiz-lhes as fotos que enviei a uma jornalista
italiana que falou com eles e ela enviou-me os detalhes da vida que eles têm
tido ao longo dos anos a fugir da guerra no médio oriente. O chefe da família,
disse-me que estava ali para ver o Papa, após eu o ter questionado com esta
curiosidade. Despedi-me da família desejando muitas felicidades e paz para
todos, e são bem-vindos a Fátima.
Quem sou eu para dar as boas vindas a um local em que eu não
tenho jurisdição, mas como católico que sou, dou as boas vindas a uma família
de professa outra religião, ao nosso local de culto a Nª Senhora e desejo
felicidades a uma família que tem sido tão fustigada pela guerra.
Na altura quando o Papa Francisco entrou no santuário para a
bênção das velas foi inaugurado oficialmente o Terço gigante feito pela artista
Joana Vasconcelos, ou seja foi iluminado pela primeira vez.
Mais uma vez na sua missão de Papa, quebra o protocolo
saindo do Papamóvel percorrendo a pé, junto dos fiéis, uma pequena parte do
percurso antes de chegar à capelinha das aparições.
Em termos de reportagem estava a ser muito difícil para mim.
Mesmo usando o equipamento que levei estava muito longe da capelinha, ou seja
estava na colunata oposta à capelinha das aparições. Contudo vivi o momento com
grande intensidade, e confesso que ao passar os tempos estou a viver e
interiorizar ainda mais ao reler os textos, ao rever as fotos que fiz, ao pensar
no que vivi no local…
O mar de luz que aquele Santuário Mariano se fez notar com
as velas e o Terço gigante iluminado, e assim rezar o rosário, foi maravilhoso.
Tinha perto da minha
pool o nosso Presidente da República, o Primeiro Ministro e mais individualidades que quiseram estar presentes nas cerimónias.
O cansaço estava a ser cada vez mais intenso, e o local que
me atribuíram para fazer a reportagem fotográfica não tinha ângulo para o altar
principal, não fiquei para a missa da noite pelo Secretário de Estado do
Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin.
Assim que vi uma mesa desocupada liguei o computador,
descarreguei os cartões, carreguei a bateria da máquina que já estava sem carga,
o telemóvel também estava a necessitar de ser carregado, e dormi debruçado
nessa mesa.
Pelas 06h00 um operador de câmera alemão acorda-me e pede
para desocupar a mesa, pois iam ter um directo dali a 30 minutos e necessitava
de preparar as coisas. Como sabia que a mesa estava reservada a eles,
rapidamente a desocupei e debrucei-me noutra para dormir mais um pouco… foi
mesmo um pouco, pois pelas 06h30 acordei com um cão a farejar-me. Ele percorreu
todo o Media Center a farejar. Estranhei isso, mas no seu regresso perguntei ao
seu tratador qual era a missão dele, e ele disse que este cão é usado na
detecção de explosivos. Fiquei tranquilo com a missão e o cuidado por toda a
segurança feita no Santuário, pois havia boatos de alto-risco, era uma situação
apetecível para um atentado. Inclusivamente os meus familiares não estavam
confortáveis com a minha ida, mas disse-lhes que ia na mesma.
Não consegui dormir mais, e aproveitei para fazer um pedido
para ficar numa pool melhor, pois no dia anterior não tive proximidade com o
Santo Padre e esse ângulo não dava para fotografar a celebração no altar
principal. Consegui ir para o Sagrado Coração de Jesus, mesmo em frente ao
altar principal, mas a distância continuava a ser notável. Um fotógrafo que
estava com uma 600mm estava-se a queixar da distância, e como não estava eu com
a 300mm… mas vivi o momento, tenho fotos, não as que eu queria, mas as que Deus
me proporcionou que eu fizesse.
A celebração foi espiritualmente muito intensa, o calor
estava a apertar muito o que deu algum trabalho aos escuteiros a evacuar as
pessoas que se sentiam mal, para serem assistidas.
No final, mais uma vez este nosso Peregrino de Fátima, o
Papa Francisco acena à procissão da imagem da Nª Senhora de Fátima rumo à
capelinha das aparições. Acena mesmo como peregrino, do lugar dele, com o seu
lenço e a olhar para o desfile do andor.
Após este momento, ele entra no Papamóvel e pede para passar
por várias vias do Santuário, para passar pelo máximo de peregrinos possível
para estar com eles.
Quando o Papamóvel está quase a passar pela nossa pool, uns
minutos antes, um segurança sobe e pede-me a credencial, eu mostrei, ele
educadamente agradeceu e desceu para o seu posto de segurança. Perguntei a um
colega que estava ao meu lado se tenho aspecto duvidoso, ele disse-me:
“Provavelmente não tinhas a credencial visível daí ele ter vindo cá acima
confirmar.”
No momento em que o Papa Francisco passa por nós, vira-nos
as costas e acena para o povo. Fiquei furioso, pois era o único momento em que
podia ter uma foto dele de proximidade e não me proporcionou… mais tarde fiquei
com a sensação que fiquei com um excelente momento para retratar, o Santo Padre
virado para o povo, e registei a reacção do povo.
Nem tudo o que se pensa e regista é mau, depende o ponto de
vista.
Após as celebrações vem o rescaldo, esse rescaldo não é só
ver o Santuário sem a multidão que o preencheu horas antes.
O rescaldo é espiritual, reler os documentos das
celebrações, da visita do Santo Padre, relembrar os momentos de maior vivência
espiritual, pensar que tivemos dois dias intensos.
Para o Papa Francisco também houve um “rescaldo”, ele enviou
Notas de Agradecimento que foram publicadas nos vários Media via Internet. Ele
não se esquece tão cedo do que viveu em Fátima com o povo vindo de todo o mundo
para estas celebrações.
Deixo também as ligações para material disponibilizado pela
Igreja para a preparação da vinda do Papa.
Espero que estes quatro capítulos sobre o 12 /13 de Maio de
2017 em Fátima possam ter sido produtivos espiritualmente para quem os lê,
assim como os documentos disponibilizados.
Fotos do evento:
Dia 12
Dia 13
Documentos do evento:
1)
Preparativos
2)
Evento
3)
Agradecimentos
Parry Spotter